Preconceito e ingerências na Seleção e no Planalto

Dunga e Lula

Preconceito e ingerências na Seleção e no Planalto

O ano é de eleições, o Exército se meteu numa trapalhada no Rio de Janeiro, a inflação voltou ao noticiário, mas o assunto do momento é a queda de Carlos Caetano Bledon Verri – ou Dunga para os íntimos. Bastaram dois ou três jogos de baixíssimo nível técnico para que a cabeça do treinador da Seleção Brasileira fosse colocada a prêmio. Sem nenhuma experiência anterior – Dunga nunca treinou time algum -, o “professor” (como gostam de dizer os jogadores) está pagando pela sua inexperiência e a falta de craques. Enxergo algumas falhas aqui e ali em Dunga, mas não a ponto de comprometer o conjunto da obra.

Mas é possível vislumbrar uma perigosa campanha para tirá-lo do cargo. A começar pela perigosa Rede Globo e a outra parte da perigosa imprensa tupiniquim. Em entrevista ao jornal “O Dia”, Dunga revelou o que fez para despertar a ira da emissora. Veja a íntegra em http://odia.terra.com.br/esporte/htm/dunga_estou_p_mas_estou_tranquilo__179769.asp.

Direito à informação ou privilégio de alguns?
Acho que se estivesse no Mineirão no jogo contra a Argentina engrossaria os gritos de “Burro, burro” oferecidos ao treinador, mas na pele de torcedor. Vestindo o uniforme de jornalista, ouviria mais e perguntaria:
A Seleção ideal é esta ou foi apenas o que pode ser convocado e treinado já que o calendário é apertado.

Os patrocinadores exigem fulano ou ciclano?
E por ai vai. O que muita gente tem questionado é que a Globo teme que o Brasil fique fora da próxima Copa do Mundo. É não pela alma de torcedor. É pela grana mesmo. O Brasil fora da África do Sul significa milhares de televisores desligados que é igual a dólares de menos no faturamento. Business is business.

E o presidente?
E o presidente Lula, onde entra nesta história? Do mesmo jeito. Lula também nunca dirigiu nada além de um sindicato, mas chegou ao poder e incomoda alguns interesses. Aliás, muitos. Tá certo que não é nenhuma maravilha, tem centenas de defeitos, (aprendeu a barganhar para ficar no poder, gente ao seu lado está envolvido em maus lençóis) mas tem feito um governo responsável.

Quer dizer, faz o que pode já que a roubalheira aqui é mais que secular. Faço algumas ponderações pró-Lula porque vejo nas críticas a ele muito mais preconceito e elitismo do que propriamente vontade de consertar o Brasil.

E não é que a colunista (me perdoe, mas não consigo mais chamá-la de cientista política) Lúcia Hippolito, das empresas globais, fez a mesma comparação só que de uma maneira na qual não conseguiu esconder o preconceito. Reproduzo, na íntegra, o que foi dito:
Uma das coisas que talvez o presidente Lula tenha feito mal para o país, porque as pessoas acham que podem, de repente, se candidatar presidência da República sem nunca ter feito nada. Olhe o Dunga, nunca foi técnico nem do time da esquina da rua dele. Agora já virou técnico da seleção brasileira e acha que sabe tudo.

Ou seja, quem é esse nordestino (ou esse gaúcho). O poder é nosso, lê-se nas entrelinhas.
Acho que o motivo de tanta crítica é o mesmo. Estão querendo tirar o Lula (ou o Dunga, ou ambos) para colocar outro dos seus. Não para melhorar a vida do cidadão ou conquistar o hexa em 2010. Puxo a orelha dos dois, mas podem contar com meu respeito.

foto: Marcello Casal/ABR