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De volta às origens

"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." Cláudio Abra...

sábado, 30 de janeiro de 2010

Ah! as pesquisas ...

A campanha mal começou e um fato se repete, ad nauseam.

Na divulgação de pesquisas eleitorais, quem ganha comemora e alardeia o resultado a quatro ventos. Quem perde, questiona a validade dos números e a credibilidade dos realizadores da pesquisa.

Foi assim quando José Serra estava na frente. Tucanos pipocaram foguetes difundindo a ideia que Lula não conseguirá transferir votos para a ministra Dilma Rousseff.

Dilma e os petistas, por sua vez, enxergaram ali mais um complô contra a candidatura e que os números foram inflados, criticando também os locais onde foram feitas as perguntas.

Com Dilma aparentemente crescendo, os papéis se inverteram.

O PT se enche de esperança, enquanto o PSDB põe em xeque a validade dos números.

O fato é que se o PSDB preteriu Aécio porque Serra se dava melhor com as pesquisas, esses últimos indicadores revelam que a estratégia deverá ser repensada.

E Aécio, que pela centésima milionésima vez insistiu que não será vice, está certo. Vice, não, mas que tal o candidato?
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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Os dois pedaços do mesmo pão

Republico, sem maiores comentários, artigo do brilhante Mauro Santayanna.

Entre outras vozes que se levantaram, no Brasil, contra a nossa solidariedade para com o povo do Haiti, destacou-se a do senador Epitácio Cafeteira, do Maranhão. Sua excelência pertence às oligarquias daquele estado e, desde 1962, tem sido eleito pelo seu povo, um dos mais pobres do país. Homem rico, conforme a relação de seus bens divulgada pelo Senado – muitos deles imóveis valiosíssimos – Cafeteira dispõe de dois aviões e automóveis importados. No Senado, ao negar ao governo autorização para o envio de mais tropas brasileiras a Porto Príncipe, declarou comovente solidariedade com o povo brasileiro. Para ele, é necessário cuidar dos brasileiros, e não dos estrangeiros. E foi além: atribuiu à imprensa brasileira o destaque que se dá aos mortos do Haiti, em detrimento das vítimas nacionais das enchentes.

Nós poderíamos cobrar do senador solidariedade para com o seu povo mais próximo, o do Maranhão – como governador que foi do estado, e como parlamentar que o vem representando há quase cinco décadas. As mulheres quebradeiras de coco, os pescadores, os sertanejos e os caboclos maranhenses, castigados secularmente pela miséria, massacrados pelo latifúndio e, eventualmente, pelas cheias, estão esperando pela compaixão do senador. Cafeteira é um dos donos do Maranhão. Se houvesse nascido no Haiti, naturalmente pertenceria à elite mulata daquele pequeno país, e, morando na parte mais bem edificada de Porto Príncipe, não estaria necessitando da solidariedade dos outros. Estaria preocupado com seus aviões e seus automóveis e, provavelmente, com suas lanchas.

As seções de cartas dos jornais e alguns blogs da internet mostram que parcelas alienadas da classe média tornaram-se, repentinamente, também sensibilizadas com as enchentes e desabamentos em nosso país, e acusam o governo de se dedicar ao Haiti. Trata-se de um desvio singular da ação política. Animados pela hipocrisia, esses humanistas de última hora se esquecem de que, tanto como no Haiti, é a miséria que faz as nossas tragédias. É a falta de trabalho, de escolas, de saúde, de planejamento urbano, de reforma agrária, enfim, da dignidade que vem sendo negada aos pobres, desde que aqui chegaram os fidalgos ibéricos. Aqui – e na Ilha La Española, onde se encontra o Haiti. O subdesenvolvimento, causa de toda a miséria, não é maldição mas resultado de deliberado projeto de desigualdade. Quanto maior a miséria em torno, mais ricos se fazem alguns. Por isso impedem a reforma agrária e impedem a educação dos pobres. Sua filosofia é a de que só têm direito aos benefícios da civilização os que puderem pagar por eles.

Eles não sabem que uma das poucas alegrias das pessoas pobres é a do exercício da solidariedade. Não conhecem a felicidade dos trabalhadores que se organizam em mutirão a fim de reconstruir o barraco que desabou, ou de construir a moradia de dois cômodos para uma viúva e seus filhos. Os haitianos que perderam suas casas e seus familiares são seres humanos, exatamente iguais aos nossos pobres, que se veem nos olhos solidários dos soldados e dos voluntários civis brasileiros no Haiti.

O presidente Lula pode desagradar a muitas pessoas, por ter saltado etapas em sua realização pessoal. Ele deixou o chão da fábrica para liderar seus companheiros de classe e se tornou dirigente político e presidente da República. É um pecado imperdoável: não enfrentou o vestibular, não teve que cavar empregos seguros ou casamentos de conveniência para se tornar vitorioso: enfim, não serve de modelo para a formação de uma juventude alienada e consumista, instrumento para a segurança de parcelas das elites. É provável que, no caso do Haiti, o presidente reaja como o menino que enfrentou as cheias na periferia de São Paulo e conhece de perto a solidariedade dos pobres.

O Brasil, como um todo, não sendo ainda um país rico, age como seus pobres. Não há nenhum mérito em dar o que nos sobra. O mérito está em repartir o que temos e do que necessitamos. Poeta mais conhecido em Minas, Djalma Andrade resumiu este sentimento ao pedir a Deus que nunca o deixasse comer sozinho o pão que pudesse partir em dois pedaços.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Xenofobia doméstica


Um das discussões mais chatas e estéreis - além das críticas em torno da foto do presidente Lula com uma caixa

de isopor na cabeça - versa sobre o berço de nascimento da ministra Dilma Rousseff. É evidente que tudo começa com a tentativa, por parte do PT, de ressaltar sua mineiridade, como se isto vantagem fosse. Isto não a torna nem mais bela nem mais feia, nem melhor nem pior, nem mais competente ou não.

Da mesma forma, é desimportante escolhermos, aqui nas Minas Gerais, o nome de Aécio pelo simples fato dele ser mineiro. O que, de direito, não o é. Aécio nasceu no Rio, embora tenha família mineira e tenha migrado para Minas atendendo ao convite do avô Tancredo então governador do Estado.

Não votaria em Aécio pelo simples fato dele ser mineiro. Acho que seria o mesmo que votar nele só porque é cruzeirense (time do meu coração!).

Recuso-me a entoar a mesma cantilena: voto é coisa séria e a gente deve ouvir as propostas, pesquisar o passado do candidato etc etc etc etc etc....

Dentro deste raciocínio não deveríamos votar em gaúchos, já que três deles - Costa e Silva, Médici e Geisel - foram implacáveis generais da ditadura militar.

Não faz sentido.

A bem da verdade nem sei qual a real vantagem de se ter um presidente mineiro. Minas sempre teve lideranças importantes, Itamar assumiu a vaga de Collor, Lula tem ministros mineiros ao seu lado desde a primeira hora, o próprio Aécio foi presidente da Câmara e nenhum deles conseguir canalizar verbas para o metrô, por exemplo. Recife e Brasília estão à frente neste tipo de transporte, enquanto parlamentares mineiros mendigam verbas para o metrô que há quase 30 anos atende uma parcela muito pequena da população.

E nesta seara adormece mais uma lenda, tal qual a "Loura do Bonfim" e outras crendices belo-horizontinas. Há anos circula a versão de que o metrô não anda por pressão dos donos de empresas de ônibus preocupados com a concorrência. Ninguém nunca provou, os próprios empresário sobem nas tamancas quando o assunto é mencionado, mas o fato é que o metrô descarrilou em BH. E não há mineiro ilustre que traga dinheiro suficiente. Prova de que mineiro no poder nem sempre é sinônimo de prestígio e torneiras jorrando verbas públicas abundantemente.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Campanha e preconceito

A campanha eleitoral que se aproxima tende a ser disputada ao rés do chão, ou seja, em baixo nível.

Dá para elevá-la, mas como o assunto divide paixões e posições antagônicas (nem tão antagônicas assim, se olharmos com cepticismo). Consideremos isso como um fator natural da política.

Mas o que não pode é a imprensa entrar neste clima de falta de propostas e partir para ofensas e críticas pontuais de mazelas dos candidatos.

A manchete de "O Tempo" desta quarta, 20 de janeiro, é um exemplo.

Dilma promete dinheiro para linha de metrô que não existe

A ministra, obviamente, incorreu em um erro. Desinformação, desconhecimento, lapso de memória, ato falho, ou tudo junto.

Não importa. Houve um erro que deveria ser considerado pela reportagem. E, em nome do bom jornalismo - aquele que manda ouvir "o outro lado" - checar a informação com a ministra
ou com sua assessoria.

Mas elevar o erro à enésima potência e superestimá-lo já entra em um reino perigoso. Principalmente porque o jornal enumerou outras gafes públicas de Dilma. Inócuas, diga-se de passagem.

E a intenção, deliberada ou inconsciente, é desmerecer a candidata. Não por suas posições políticas, seu programa, suas propostas. Mas por erros bobos. Não se trata de dourar a pílula e não registrar os erros. Mas dar-lhes a dimensão que merecem. Muito menos transformá-lo em manchete.

Erros, todos cometemos. Inclusive os próprios jornais. Mas transformar isso em campo de batalha é velha tática de uma boa parte da grande mídia.

O ex-governador paulista Franco Montoro era conhecido por trocar nomes. Proporcionou gafes - algumas engraçadas - em público. Isso diminui sua biografia ou mancha sua história?

Lula é tido como parvo, falastrão, demagogo, sem-educação, cachaceiro, analfabeto, peão e outras qualificações ao gosto de seus inimigos.

Antes que a pecha de lulista recaia sobre meus ombros, refresquemos a memória. O ex-presidente Itamar Franco, quando ocupava a Presidência, também foi igualmente atacado: mineiro, bobo, amante do pão-de-queijo, provinciano etc etc etc. Quem não se lembra da 'República do Pão de Queijo'?

Como não também não acrescenta nada ao debate e à campanha em si, falar dos atributos físicos de José Serra, do espírito carioca de Aécio Neves, da voz esganiçada de Marina Silva ou das vestimentas de Heloísa Helena.

Isso, de fato, empobrece o debate e deve passar longe das manchetes dos jornais.

Parece que Dilma também vai padecer com o mesmo preconceito. Antes mesmo de ser eleita. Se é que um dia vai ser.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Os arcanos da província

Não é do meu feitio transcrever pura e simplesmente coisas que se encontram no imenso oceano da Web.
Mas vou ceder às tentações do ctrl.C - ctrl.V. Afinal tenho de manter este espaço atualizado, limpo e higienizado.
O artigo é do brilhante Mauro Santayana.



Os dirigentes paulistas do PSDB fecham o cerco, nestas horas, com o fim de constranger o governador de Minas a disputar a Vice-Presidência, na chapa do partido. Eles podem não conhecer as razões de Minas, mas Aécio Neves, até mesmo pelas circunstâncias familiares, as conhece bem, e sabe que não pode recuar. Ele parece entender que, tanto em seu projeto biográfico quanto na fidelidade a Minas, não pode ser candidato a vice, mesmo com as excelentes relações que sempre manteve com o governador de São Paulo. Não é uma postura pessoal, embora, em Minas, quando se trata de política, seja difícil separar o indivíduo de sua grei.

Os mineiros brigam entre eles, armam ciladas, dissimulam os sentimentos, são astutos pecadores e espertos em negócios. Eles podem eventualmente aceitar que seus conterrâneos sejam atacados e ofendidos, como pessoas comuns, mas se tornam ferozes quando qualquer mineiro é atingido pelo fato de ser mineiro. Quando isso ocorre, reagem com o sentimento tribal. Sentem-se tocados, porque se irmanam ao ofendido, na identidade comum de montanheses. E quando qualquer um deles, em nome de sua ambição, rompe esse compromisso consuetudinário de solidariedade da província, os conterrâneos não o perdoam. Podem continuar convivendo com o trânsfuga, tratá-lo com elegância, visitá-lo na enfermidade e assistir a seu enterro, mas os gestos, o olhar, o altear das sobrancelhas, o movimento involuntário dos lábios, o constrangimento, demonstram o que lhes vai no fundo da alma. Não se trata de sentimento de desprezo. É, mais do que isso, discreta manifestação de piedade.

É também certo que não basta nascer em Minas para ser mineiro, como também não é necessário nascer ali para imbuir-se do caráter da gente da terra. Esse caráter é o resultado do ceticismo, da dúvida, de natural aceitação da transcendência, e providencial desconfiança de que Deus e o Diabo (sobretudo o Diabo) realmente existem. É em razão disso que Guimarães Rosa resume o mineiro, ao dizer que ele “escorrega para cima”. Escorrega para cima e diz “vou chegando”, quando está se despedindo. Não sabemos o que, exatamente, pensa Aécio, mas é bom apostar que ele conhece e respeita os arcanos da província. Ele sabe que, se ouvir o canto das sereias do Tietê, e aceitar ser vice, ambos – ele e o candidato à Presidência – correm o risco de perder as eleições em Minas, ainda que possam ganhá-las no resto do país. Essa seria a mais desoladora das derrotas para um mineiro.

Entre as melodias que cantam aos ouvidos de Aécio, nestas horas, há a da divisão do poder entre o vice e o presidente. Todos sabemos que, conforme a Constituição, no Brasil não há dualidade na chefia dos poderes, como havia no consulado romano. A atribuição de parcelas do Poder Executivo ao vice-presidente, ainda que houvesse, seria mera concessão, ad nutum, do titular, e não duraria mais do que a famosa rosa de Malherbe. Como dizem os mineiros, é melhor não.

É melhor não. Aécio tem a sua eleição garantida para o Senado, e dispõe de um capital considerável, que é a sua popularidade. Se ele fosse candidato à Presidência, e não tivesse êxito, seria, mesmo sem mandato, uma referência política nacional importante. Mas se perdesse as eleições, como o segundo da chapa, seria o vice do derrotado. Senador por Minas, Aécio continuará prestando seus serviços aos mineiros e ao Brasil, porque contribuirá, com suas ideias conhecidas, para a reconstrução do pacto federativo brasileiro. Essa é uma bandeira antiga do estado.

Um dos que menos conhecem Minas é o presidente do PPS, o ex-deputado Roberto Freire. Ao desmentir que seu partido pretenda propor o nome de Itamar Franco para a Vice-Presidência, afirmou que a agremiação trabalha para que o governador de Minas seja o candidato a vice, na chapa do PSDB. O político pernambucano foi deselegante com Itamar que, em nota distribuída à imprensa, deixara bem claro que o seu compromisso é com Minas e com o destino político de Aécio Neves. Freire, com sua alma de tucano de São Paulo, se soma assim aos que tentam constranger o governador de Minas.

O presidente Mário Soares disse, uma vez, que todos os políticos brasileiros deviam fazer um estágio em Minas, pelo menos durante alguns meses – “como fez Getulio Vargas, ainda adolescente”. O estadista português provavelmente tenha pensado no fato de que Minas, até mesmo pela fatalidade geográfica, é uma das mais brasileiras de todas as regiões nacionais

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2010

Entre as minhas metas para este ano da graça de 2010 está manter este espaço mais atualizado, mais crítico, mais inteligente.

Por isso, em breve, volto a postar.

Aguardem notícias!

Obrigado!