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De volta às origens

"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." Cláudio Abra...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A batalha do Rio

Reproduzo aqui, mais uma vez, o texto do mestre Mauro Santayana. Vale a pena colocar a cabeça para refletir um pouco:

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É um engano identificar a batalha do Rio – e de outras grandes cidades – como mero confronto entre a polícia e delinquentes, traficantes, ou não. Embora a conclusão possa chocar os bons sentimentos burgueses, e excitar a ira conservadora, é melhor entender os arrastões, a queima de veículos, os ataques a tiros contra alvos policiais, como atos de insurreição social. Durante a rebelião de São Paulo, o governador em exercício, Cláudio Lembo, considerado um político conservador, mais do que tocar na ferida, cravou-lhe o dedo, ao recomendar à elite branca que abrisse a bolsa e se desfizesse dos anéis.

O Brasil é dos países mais desiguais do mundo. Estamos cansados do diagnóstico estatístico, das análises acadêmicas e dos discursos demagógicos. Grande parcela das camadas dirigentes da sociedade não parece interessada em resolver o problema, ou seja, em trocar o egoísmo e o preconceito contra os pobres, pela prosperidade nacional, pela paz, em casa e nas ruas. Não conseguimos, até hoje (embora, do ponto de vista da lei, tenhamos avançado um pouco, nos últimos decênios) reconhecer a dignidade de todos os brasileiros, e promover a integração social dos marginalizados.

Os atuais estudiosos da Escola de Frankfurt propõem outra motivação para a revolução: o reconhecimento social. Enfim, trata-se da aceitação do direito de todos participarem da sociedade econômica e cultural de nosso tempo. O livro de Axel Honneth, atual dirigente daquele grupo (A luta pelo reconhecimento. Para uma gramática moral do conflito social) tem o mérito de se concentrar sobre o maior problema ético da sociedade contemporânea, o do reconhecimento de qualquer ser humano como cidadão.

A tese não é nova, mas atualíssima. Santo Tomás de Aquino foi radical, ao afirmar que, sem o mínimo de bens materiais, os homens estão dispensados do exercício da virtude. Quem já passou fome sabe que o mais terrível dessa situação é o sentimento de raiva, de impotência, da indignidade de não conseguir prover com seus braços o alimento do próprio corpo. Quem não come, não faz parte da comunidade da vida. E ainda “há outras fomes, e outros alimentos”, como dizia Drummond.

É o que ocorre com grande parte da população brasileira, sobretudo no Rio, em São Paulo, no Recife, em Salvador – enfim em todas as grandes metrópoles. Mesmo que comam, não se sentem integrados na sociedade nacional, falta-lhes “outro alimento”. Os ricos e os integrantes da alta classe média, que os humilham, a bordo de seus automóveis e mansões, são vistos como estrangeiros, senhores de um território ocupado. Quando bandos cometem os crimes que conhecemos (e são realmente crimes contra todos), dizem com as labaredas que tremulam como flâmulas: “Ouçam e vejam, nós existimos”.

As autoridades policiais atuam como forças de repressão, e não sabem atuar de outra forma, apesar do emplastro das UPPs.

Na Europa, conforme os analistas, cresce a sensação de que quem controla o Estado e a sociedade não são os políticos nem os partidos, escolhidos pelo voto, mas, sim, o mercado. Em nosso tempo, quem diz “mercado”, diz bancos, diz banqueiros, que dominam tudo, das universidades à grande parte da mídia, das indústrias aos bailes funk. E quando fraudam seus balanços e “quebram”, o povo paga: na Irlanda, além das demissões em massa, haverá a redução de 10% nas pensões e no salário mínimo – entre outras medidas – para salvar o sistema.

A diferença entre o que ocorre no Rio e em Paris e Londres é que, lá, o comando das manifestações é compartido entre os trabalhadores e setores da classe média, bem informados e instruídos. Aqui, os incêndios de automóveis e os ataques à polícia são realizados pelos marginalizados de tudo, até mesmo do respeito à vida. À própria vida e à vida dos outros.

domingo, 21 de novembro de 2010

O Islã e as mulheres


Este post foi publicado em abril de 2009 e mostra-se atual em relação à relação do Islamismo com as mulheres.

Para fomentar o debate, republico o texto.

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Em dois livros "A Infiel" e "A Virgem na Jaula", a cientista política Ayaan Hirsi Ali, somaliana de nascimento e atualmente residindo nos Estados Unidos coloca o dedo na ferida ao questionar, aberta e publicamente, a relação do islamismo com as mulheres.

Na primeira parte do livro, Hirsi Ali narra em pormenores como viveu o pão que o diabo amassou. Fugindo de guerras e golpes, morou no Quênia, passou pela Arábia Saudita e viveu longe do pai – um ativista político – mas ao lado da mãe conservadora e da avó, mas conservadora ainda. Mãe e avó não pestanejaram em recorrer à clitoridectomia, ou seja, seu clitóris e grandes lábios são extirpados a seco quando ela era criança. Caso contrário, poderia ser considerada uma prostituta.

As dificuldades e costumes tribais se sucedem em uma narrativa seca, sem rancor, mas com sensibilidade. Na segunda parte, já vivendo na Holanda, para onde fugiu depois de recusar um casamento arranjado pelo pai, Hirsi Ali parte para algumas reflexões, depois de aprender o holandês (com méritos, pois já se comunicava em somali, inglês e um árabe rudimentar) e concluir a faculdade. Não antes de se eleger deputada no parlamento holandês.

Seu principal questionamento é que se os países cristãos devem sofrer porque são infiéis, porque os países muçulmanos é que se vêem envoltos em guerras e uma gritante pobreza? Quando tudo parecia se encaminhar para uma vida menos sofrida, a cientista política viu-se ameaçada e transformada em um Salman Rushdie de saias. Vive debaixo de um aparato militar e é jurada de morte pelos mais radicais e fanáticos que a acusam de profanar o Islã e o profeta Maomé.

Por conta de suas colocações, Hirsi Ali já perdeu um amigo, Theo Van Gogh, cineasta com que fizera o filme “Submissão”. Ele foi encurralado por uma radical e morto. Em seu peito foi cravada uma faca com um bilhete endereçado à escritora. Da forma mais paradoxal, o tal bilhete começava recorrendo a “Alá, o clementíssimo e misericordiossímo”.

Sem a menor dúvida, vale a pena se debruçar pelas quase 500 páginas de “Infiel”. A história, apesar de triste, é muito bem narrada e suas considerações finais a respeito de religiosidade e respeito à individualidade e ao livre arbítrio, são fundamentais em um mundo que precisa cada vez mais de aceitar e respeitar o outro.

Ao final, resta a dúvida: até quando a liberdade de credo deve ser aceita, mesmo que em nome desta fé sejam cometidas atrocidades e flagrantes desrespeitos a direitos humanos dos mais básicos e sem os quais a vida não ter o menor sentido?

Depois de "A Infiel", Ali Ayaan Hirsi Ali joga mais lenha na fogueira com seu livro "A Virgem na Jaula - Um apelo à Razão". A obra reúne alguns ensaios, discursos no Parlamento holandês (onde é deputada) e até o roteiro de "Submissão", filme odiado por nove em cada dez muçulmanos do planeta.

Ayaan Ali entra em temas muito mais que polêmicos, explosivos até, ao questionar o que chama de atraso do mundo muçulmano e seu histórico de violência, principalmente contra as mulheres. "Queremos o nosso Voltaire", brada a autora, fazendo menção a um dos ideólogos do Iluminismo, que por sua vez desembocou na Revolução Francesa e no respeito aos direitos humanos, principalmente o de expressão.

Apesar de respeitar a religião, Ayaan não se furta em questionar Maomé (ou Muhamed, como preferem os mais politicamente corretos) e culpar o islamismo pelo atraso econômico de alguns países que misturam Estado e religião. Ela vai mais além ao afirmar que não há "um muçulmano que tenha feito uma descoberta científica e tecnologia". E sentencia: "numa comunidade de 1,2 bilhão de fiéis, conhecimento e progresso não são aspirações prioritárias".

Ayaan ainda despeja pólvora na fogueira quando alinha, em um capítulo de seu livro, dez dicas para muçulmanas que querem fugir. Merece registro também seu levantamento sobre a "circuncisão feminina", meninas que têm o clitóris arrancado e a vagina suturada para tirar o prazer e mostrar virgindade. Uma prática tribal e que, segundo ela, conta com o "silêncio complacente" dos países desenvolvidos.

* AGENDA : "A Virgem na Jaula - Um Apelo à Razão", de Ayaan Hirsi Ali, editora Companhia das Letras, 224 págs., R$ 39

* AGENDA : “Infiel – A história de uma mulher que desafiou o Islã”, Companhia das Letras, 496 páginas, R$ 49.

Ahmadinejad

Não morro de amores pelo líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Por uma série de motivos que aqui não cabe enumerar.

Mas dar grande destaque à sua "sugestão" de que as iraniana deveriam se casar aos 16 anos é exagerar nas tintas. No fundo, no fundo, o que se quer é atacar a política externa do governo brasileiro.

Tá certo que é questionável certas atitudes do governo Lula com relação ao governo iraniano. Principalmente no caso do apedrejamento de Sakineh Mohammadi Ashtiani.

Mas bater, única e exclusivamente, no Irã revela a chamada indignação seletiva. Em muitos países árabes (e, coindentemente ou não, alinhados com os EUA), há gritantes violações dos direitos humanos.

Há muito mais violência contra a mulher no mundo islâmico e que não chamam tanto a atenção. É o caso da clitoridectomia, ou exrtirpação do clitóris. Ainda muito comum em diversas comunidades e feita para inibir o prazer sexual.

Acho este tipo de barbaridade muito mais grave. E não vejo quase ninguém protestando com a mesma veemencia!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Preconceito e xenofobia

A mocinha tenta estacionar o carrão dentro do supermercado. O carro é grande e, apesar das parafernálias tecnológicas, insiste em não caber na exígua vaga.
Surge o solícito funcionário do supermercado e se dispõe a colocar aquela 'banheira' entre dois carros.
A mocinha desce, entrega a chave com displicência. Não olha no olho do manobrista (que também responde pelas funções de 'Segurança III', 'Ajudante de serviços gerais IV' e 'Pau-pra-toda-obra I'.
Ela não o cumprimenta, nem sequer agradece. Nada. Nem um protocolar balançar de cabeça.

Apenas deixa as chaves com ele e sai, ajeitando o cabelo e olhando o comprimento do vestido.

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Toda essa crônica de costumes é para narrar cena vista há alguns dias e que chamou a atenção deste que vos digita.

A mocinha com seu carrão e sua empáfia é cena cotidiana em um país que ainda não conseguiu se desvencilhar de um persistente ranço escravocrata. E a observação se une à onda xenófoba que assustou uma parte do país.

País que, diga-se de passagem, até pouco tempo atrás ainda tinha edifícios com a divisão entre o elevador social e o de serviço. Empregado, entregador de pizza, preto e pobre? Aos seus lugares, por favor!

Recentemente, colega de profissão reclamava das vagas no estacionamento, lotado, da empresa que a obrigou a deixar o carro na rua. "Não sou pião", vociferava, com a certeza de que o diploma de curso superior a coloca em um patamar superior ao restante da humanidade.

Flagrantes deste desrespeito são diários e silenciosos. Em pleno século XXI algumas pessoas ainda se acham melhores que as outras e dotadas de privilégios sócio-acadêmicos-financeiros que as diferenciam.

A TV repete estereótipos: o mineiro desconfiado, o carioca malandro, o paulista sisudo, o nordestino ingênuo, a loura burra....

E depois nos assustamos quando alguém expõe, às claras, todo esse preconceito subliminar que nos rodeia.

Confundimos, sem o menor pudor e discernimento, direitos com privilégios.
Lamentável!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Definição

"O jornalista político precisa de três livros de cabeceira: a gramática, para saber escrever; a Constituição, para ter respaldo sobreo que escreve; e a Bíblia, para rezar pelas consequências."
(Leandro Mazzini)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

De volta

Eram para ser 15 ou 20 dias. Foi em abril. Tinha planos de aprimorar o blog. Mas não pude.

Preferi passar o período eleitoral e também porque cumpria um contrato de trabalho e achei melhor não me expor e manter o equilíbrio.

Equilíbrio, aliás, fundamental numa campanha onde a intolerância e o patrulhamento ideológico andaram à solta.

Estou de volta e disposto a arejar este espaço, além de dar vazão a uma quase patológica necessidade de escrever.

Volto em breve! Obrigado!