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De volta às origens

"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." Cláudio Abra...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Pai coruja, babão e orgulhoso



Ao deixar meu filho, de 8 anos, na escola, cartazes afixados nas paredes chamam minha atenção. Ecologista e preocupado com as coisas da natureza ele se manifestou e ensina aos coleguinhas e professores.

Quanto orgulho em estar formando um cidadão!

Uma greve e três perguntas


A greve dos rodoviários - embora seja igual ao especial do Roberto Carlos e aconteça uma vez por ano - sempre mexe com os nervos da população.

E, nesta época, jornais e TVs, enfim, começam a questionar que o transporte público em BH está na idade da pedra.

Mas na pressa e evitando tocar em temas muito profundos (o lado político e comercial sempre fala mais alto) deixam uma série de perguntas jogadas no ar.

As tarifas de ônibus em BH são geridas e levam em conta um conceito conhecido como Câmara de Compensação Tarifária. É feito para que haja um equilíbrio, ou nas palavras da BHTrans:

"Baseado no conceito de tarifa social, prima-se por centralizar toda a arrecadação gerada pelo pagamento de tarifas e, uma vez apurados os custos operacionais de todo o sistema, distribuir essa arrecadação na proporção do custo de cada linha, garantindo assim que as linhas com superávit financeiro, cubram o déficit financeiro de outras."

Taí mais ou menos explicado porque todo mundo paga R$ 2,65 mesmo percorrendo distâncias diferentes e umas linhas andem mais que outras.

Até aí tudo bem. Só que o nó da questão é o seguinte: como se chega a este valor? Segundo os cabeças de planilha são levados em conta combustíveis, pneus, salários, impostos, amortização dos veículos entre outras variáveis.

Sendo assim,

1) Alguém tem acesso a estes números? Quem?
2) Sendo os item 'salários' uma variável não dá para o Poder Público exigir, contratualmente, uma remuneração mínima? Ou ainda assim estipular um valor a ser pago aos trabalhadores? Que seja um mínimo, daí pra cima sindicatos patronal e de trabalhadores têm ampla liberdade em negociar.

E por último, mas não menos importante: a questão da Catraca livre. Entra ano e sai ano e todo mundo diz que apoiaria o movimento se motoristas e cobradores fizessem as viagens e deixassem todo mundo passar. Alegam que o patronato sentiria o prejuízo no bolso e a população não sairia prejudicada.

Pode ser.

Aqui e ali coletei opiniões esparsas dizendo que as concessionárias são remuneradas por km rodado. Isso quer dizer que tanto faz um ônibus com um solitário passageiro ou uma verdadeira lata de sardinhas. Portanto, não compensaria, para um movimento reivindicatório, liberar a catraca. Eles trabalhariam sob pena de ter os dias cortados e não fariam nem cócegas no bolso do empresariado.

Assim, indago novamente:

3) Isso procede?

Este teimoso blogueiro e sua meia-dúzia de obstinados leitores agradecem a quem responder às três questões.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Pelas ruas

Uma manhã de diversão e lazer no Parque Municipal revelou o que eu já havia observado: aumentou - e muito - o número de moradores de rua em Belo Horizonte. Como não há um crise mais grave - pelo contrário os governos federal e estadual alardeiam que vai tudo bem - pode-se concluir que falta mesmo é uma política pública. O tema é complexo e delicado. Não se pode retirar os moradores de rua à força e despejá-los em abrigos. Mesmo porque em determinadas situações a rua oferece mais conforto do que abrigos caindo aos pedaços.


E os moradores que vi aos montes no parque não são do tipo violento. Nota-se que são vítimas mesmo. Em trapos, sujos e com aquele olhar sem nenhuma auto-estima. Muitos com a indefectível garrafa de cachaça, companheira que - apesar dos males que provoca - combate a fome e a desesperança. Há muitas histórias, quase todas comuns: um dia caíram e não conseguiram se levantar mais.

Como não houve nenhuma crise econômica significativa nos últimos anos ou alguma influência astral repentina fez as pessoas ficarem mais preguiçosas ou indisciplinadas, a gente chega mesmo a conclusão que o Poder Público andou promovendo o corte de verbas interrompendo algum programa social que ajudava estas pessoas. E queiram ou não, esta é uma função do Estado.


sexta-feira, 9 de março de 2012

Rapidinha

Estradas cada vez mais lotadas de enormes carretas. Todo o tipo de carga em cima de caminhões. Nas ruas milhares de carros. Tantos que o trânsito não os comporta mais. Acidentes de trânsito matam milhares todos os anos.

Vem cá. Ninguém percebe que a solução nas estradas está no transporte ferroviário e nas cidades no incentivo ao transporte público.

Onde isso vai parar?

A viagem dos explorados

Um leve sotaque abaianado invade o ônibus. São operários da construção civil, ou peões como são conhecidos e eles mesmos gostam de ser chamados. Nervosos, se queixam: falam rápido e ao mesmo tempo. Todos. Até que um deles, ao meu lado, já emenda a pergunta de "quanto tempo a gente leva daqui a Belo Horizonte" com a explicação de tanta irritação.

A empreiteira que os contratara e os trouxera do Norte de Minas para a cidade onde embarcamos não cumpriu o combinado. Voltavam de mala e cuia e indignados. Pra piorar - conforme narrou um deles que sentou ao meu lado - a tal empreiteira os fizera esperar até às 15 horas para pagar o salário correspondente. Para quem não sabe, agências bancárias no interior fecham às 15 horas. E era uma sexta-feira. Ou seja, dinheiro somente na segunda-feira.

Mas como eles são brasileiros e nunca desistem conseguiram trocar os cheques no comércio local. Assim, exibiam bonés, bermudas e chinelos novos comprados como motivo de barganha com os comerciantes para trocar os cheques.

A viagem transcorreu tranquila com os olhos curiosos voltados para fora da janela. Observaram o movimento infinito de carretas, ônibus na rodovia federal. Entusiasmaram-se em ver fábricas, refinarias de petróleo e três cidades que de tão ligadas umas nas outras nem dá para perceber quando é uma, quando já é outra.

Não devem ter levado boas recordações da "capital de todos os mineiros"

Voltaram à terra natal já com um nome engatilhado de um advogado que vai os ajudar a processar a empreiteira na Justiça do Trabalho. Não sei se foi o barulho da estrada ou o sotaque carregado, mas não consegui entender a expressão que usaram. Algo equivalente a "mandar para o pau" que usamos ao entrar contra empresas na Justiça.

Como desembarquei antes do barulhento grupo, apenas despedi desejando boa sorte e que não se esquecessem de procurar o tal advogado em busca de seus direitos.

Nem eu nem o nobre leitor vamos ficar sabendo o final da história. Ela já se banalizou tanto e ainda persiste neste Brasil que jura ser emergente. Mesmo em meio a tantos avanços, modernidades e progresso o capital segue subjugando o trabalho.

PS> Os nomes da empreiteira e das cidades foram propositalmente omitidos. Não importa. A história narrada ocorre - e infelizmente deverá continuar - em muitas cidades e em muitas das empreiteiras.