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De volta às origens
"O jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter." Cláudio Abra...
quarta-feira, 14 de março de 2012
Pai coruja, babão e orgulhoso
Uma greve e três perguntas
segunda-feira, 12 de março de 2012
Pelas ruas
sexta-feira, 9 de março de 2012
Rapidinha
A viagem dos explorados
Um leve sotaque abaianado invade o ônibus. São operários da construção civil, ou peões como são conhecidos e eles mesmos gostam de ser chamados. Nervosos, se queixam: falam rápido e ao mesmo tempo. Todos. Até que um deles, ao meu lado, já emenda a pergunta de "quanto tempo a gente leva daqui a Belo Horizonte" com a explicação de tanta irritação.
A empreiteira que os contratara e os trouxera do Norte de Minas para a cidade onde embarcamos não cumpriu o combinado. Voltavam de mala e cuia e indignados. Pra piorar - conforme narrou um deles que sentou ao meu lado - a tal empreiteira os fizera esperar até às 15 horas para pagar o salário correspondente. Para quem não sabe, agências bancárias no interior fecham às 15 horas. E era uma sexta-feira. Ou seja, dinheiro somente na segunda-feira.
Mas como eles são brasileiros e nunca desistem conseguiram trocar os cheques no comércio local. Assim, exibiam bonés, bermudas e chinelos novos comprados como motivo de barganha com os comerciantes para trocar os cheques.
A viagem transcorreu tranquila com os olhos curiosos voltados para fora da janela. Observaram o movimento infinito de carretas, ônibus na rodovia federal. Entusiasmaram-se em ver fábricas, refinarias de petróleo e três cidades que de tão ligadas umas nas outras nem dá para perceber quando é uma, quando já é outra.
Não devem ter levado boas recordações da "capital de todos os mineiros"
Voltaram à terra natal já com um nome engatilhado de um advogado que vai os ajudar a processar a empreiteira na Justiça do Trabalho. Não sei se foi o barulho da estrada ou o sotaque carregado, mas não consegui entender a expressão que usaram. Algo equivalente a "mandar para o pau" que usamos ao entrar contra empresas na Justiça.
Como desembarquei antes do barulhento grupo, apenas despedi desejando boa sorte e que não se esquecessem de procurar o tal advogado em busca de seus direitos.
Nem eu nem o nobre leitor vamos ficar sabendo o final da história. Ela já se banalizou tanto e ainda persiste neste Brasil que jura ser emergente. Mesmo em meio a tantos avanços, modernidades e progresso o capital segue subjugando o trabalho.
PS> Os nomes da empreiteira e das cidades foram propositalmente omitidos. Não importa. A história narrada ocorre - e infelizmente deverá continuar - em muitas cidades e em muitas das empreiteiras.