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quarta-feira, 14 de março de 2012

Uma greve e três perguntas


A greve dos rodoviários - embora seja igual ao especial do Roberto Carlos e aconteça uma vez por ano - sempre mexe com os nervos da população.

E, nesta época, jornais e TVs, enfim, começam a questionar que o transporte público em BH está na idade da pedra.

Mas na pressa e evitando tocar em temas muito profundos (o lado político e comercial sempre fala mais alto) deixam uma série de perguntas jogadas no ar.

As tarifas de ônibus em BH são geridas e levam em conta um conceito conhecido como Câmara de Compensação Tarifária. É feito para que haja um equilíbrio, ou nas palavras da BHTrans:

"Baseado no conceito de tarifa social, prima-se por centralizar toda a arrecadação gerada pelo pagamento de tarifas e, uma vez apurados os custos operacionais de todo o sistema, distribuir essa arrecadação na proporção do custo de cada linha, garantindo assim que as linhas com superávit financeiro, cubram o déficit financeiro de outras."

Taí mais ou menos explicado porque todo mundo paga R$ 2,65 mesmo percorrendo distâncias diferentes e umas linhas andem mais que outras.

Até aí tudo bem. Só que o nó da questão é o seguinte: como se chega a este valor? Segundo os cabeças de planilha são levados em conta combustíveis, pneus, salários, impostos, amortização dos veículos entre outras variáveis.

Sendo assim,

1) Alguém tem acesso a estes números? Quem?
2) Sendo os item 'salários' uma variável não dá para o Poder Público exigir, contratualmente, uma remuneração mínima? Ou ainda assim estipular um valor a ser pago aos trabalhadores? Que seja um mínimo, daí pra cima sindicatos patronal e de trabalhadores têm ampla liberdade em negociar.

E por último, mas não menos importante: a questão da Catraca livre. Entra ano e sai ano e todo mundo diz que apoiaria o movimento se motoristas e cobradores fizessem as viagens e deixassem todo mundo passar. Alegam que o patronato sentiria o prejuízo no bolso e a população não sairia prejudicada.

Pode ser.

Aqui e ali coletei opiniões esparsas dizendo que as concessionárias são remuneradas por km rodado. Isso quer dizer que tanto faz um ônibus com um solitário passageiro ou uma verdadeira lata de sardinhas. Portanto, não compensaria, para um movimento reivindicatório, liberar a catraca. Eles trabalhariam sob pena de ter os dias cortados e não fariam nem cócegas no bolso do empresariado.

Assim, indago novamente:

3) Isso procede?

Este teimoso blogueiro e sua meia-dúzia de obstinados leitores agradecem a quem responder às três questões.

2 comentários:

José Antônio Orlando disse...

Muito bom, o texto e os questionamentos...
O que dizem é que todos os números são armazenados e calculados por uma Câmara de Compensação, criada lá nos longínquos anos 1970 e fechada e lacrada desde então...
As empresas e a prefeitura ganham fortunas a cada vez que os "cálculos" são atualizados, mas a população de usuários só perde...

Enzo Menezes disse...

Questões na hora certa. Eu mesmo defendi a catraca liberada no Twitter e recebi apoio, mas também teve gente que disse que isso seria um crime (de qualquer forma, a lei protege as empresas). Fugindo um pouco: as empresas agora vendem espaço publicitário dentro dos ônibus. Ou seja, é um recurso que antes não devia existir. Por quê não usar parte dessa receita para financiar o passe livre para estudantes, por exemplo?