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domingo, 21 de novembro de 2010

O Islã e as mulheres


Este post foi publicado em abril de 2009 e mostra-se atual em relação à relação do Islamismo com as mulheres.

Para fomentar o debate, republico o texto.

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Em dois livros "A Infiel" e "A Virgem na Jaula", a cientista política Ayaan Hirsi Ali, somaliana de nascimento e atualmente residindo nos Estados Unidos coloca o dedo na ferida ao questionar, aberta e publicamente, a relação do islamismo com as mulheres.

Na primeira parte do livro, Hirsi Ali narra em pormenores como viveu o pão que o diabo amassou. Fugindo de guerras e golpes, morou no Quênia, passou pela Arábia Saudita e viveu longe do pai – um ativista político – mas ao lado da mãe conservadora e da avó, mas conservadora ainda. Mãe e avó não pestanejaram em recorrer à clitoridectomia, ou seja, seu clitóris e grandes lábios são extirpados a seco quando ela era criança. Caso contrário, poderia ser considerada uma prostituta.

As dificuldades e costumes tribais se sucedem em uma narrativa seca, sem rancor, mas com sensibilidade. Na segunda parte, já vivendo na Holanda, para onde fugiu depois de recusar um casamento arranjado pelo pai, Hirsi Ali parte para algumas reflexões, depois de aprender o holandês (com méritos, pois já se comunicava em somali, inglês e um árabe rudimentar) e concluir a faculdade. Não antes de se eleger deputada no parlamento holandês.

Seu principal questionamento é que se os países cristãos devem sofrer porque são infiéis, porque os países muçulmanos é que se vêem envoltos em guerras e uma gritante pobreza? Quando tudo parecia se encaminhar para uma vida menos sofrida, a cientista política viu-se ameaçada e transformada em um Salman Rushdie de saias. Vive debaixo de um aparato militar e é jurada de morte pelos mais radicais e fanáticos que a acusam de profanar o Islã e o profeta Maomé.

Por conta de suas colocações, Hirsi Ali já perdeu um amigo, Theo Van Gogh, cineasta com que fizera o filme “Submissão”. Ele foi encurralado por uma radical e morto. Em seu peito foi cravada uma faca com um bilhete endereçado à escritora. Da forma mais paradoxal, o tal bilhete começava recorrendo a “Alá, o clementíssimo e misericordiossímo”.

Sem a menor dúvida, vale a pena se debruçar pelas quase 500 páginas de “Infiel”. A história, apesar de triste, é muito bem narrada e suas considerações finais a respeito de religiosidade e respeito à individualidade e ao livre arbítrio, são fundamentais em um mundo que precisa cada vez mais de aceitar e respeitar o outro.

Ao final, resta a dúvida: até quando a liberdade de credo deve ser aceita, mesmo que em nome desta fé sejam cometidas atrocidades e flagrantes desrespeitos a direitos humanos dos mais básicos e sem os quais a vida não ter o menor sentido?

Depois de "A Infiel", Ali Ayaan Hirsi Ali joga mais lenha na fogueira com seu livro "A Virgem na Jaula - Um apelo à Razão". A obra reúne alguns ensaios, discursos no Parlamento holandês (onde é deputada) e até o roteiro de "Submissão", filme odiado por nove em cada dez muçulmanos do planeta.

Ayaan Ali entra em temas muito mais que polêmicos, explosivos até, ao questionar o que chama de atraso do mundo muçulmano e seu histórico de violência, principalmente contra as mulheres. "Queremos o nosso Voltaire", brada a autora, fazendo menção a um dos ideólogos do Iluminismo, que por sua vez desembocou na Revolução Francesa e no respeito aos direitos humanos, principalmente o de expressão.

Apesar de respeitar a religião, Ayaan não se furta em questionar Maomé (ou Muhamed, como preferem os mais politicamente corretos) e culpar o islamismo pelo atraso econômico de alguns países que misturam Estado e religião. Ela vai mais além ao afirmar que não há "um muçulmano que tenha feito uma descoberta científica e tecnologia". E sentencia: "numa comunidade de 1,2 bilhão de fiéis, conhecimento e progresso não são aspirações prioritárias".

Ayaan ainda despeja pólvora na fogueira quando alinha, em um capítulo de seu livro, dez dicas para muçulmanas que querem fugir. Merece registro também seu levantamento sobre a "circuncisão feminina", meninas que têm o clitóris arrancado e a vagina suturada para tirar o prazer e mostrar virgindade. Uma prática tribal e que, segundo ela, conta com o "silêncio complacente" dos países desenvolvidos.

* AGENDA : "A Virgem na Jaula - Um Apelo à Razão", de Ayaan Hirsi Ali, editora Companhia das Letras, 224 págs., R$ 39

* AGENDA : “Infiel – A história de uma mulher que desafiou o Islã”, Companhia das Letras, 496 páginas, R$ 49.

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