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quarta-feira, 9 de julho de 2008

O engarrafamento nosso de cada dia


Foi o genial cartunista Henfil quem disse, em seu livro “Diário de um Cucaracha”, que o transporte público é ruim de propósito, por ordem das montadoras de automóveis. Assim, o cidadão desiste de pressionar por melhorias no transporte coletivo e sai logo à procura de um carro para transportá-lo pelos grandes centros urbanos.

Teorias da conspiração à parte, senso de humor de outro, a frase faz sentido. No Brasil de hoje, embalados pelo crédito fácil – é possível comprar um carro em 72 prestações, por exemplo – a frota de carros dana a crescer para alegria das fábricas, todas multinacionais, diga-se de passagem. Já o transporte público mal e mal atende a sua demanda. Como o número de carros cresceu e o número de ruas não, o resultado é um só: en-gar-ra-fa-men-tos. Diários. Semanais. Mensais.

Perdas econômicas
Como o que não falta no Brasil é gente fazendo conta, um banco divulgou que a lentidão do trânsito brasileiro provoca uma perda de 5% em produtividade. Somando o tempo perdido com os acidentes e gastos na saúde públicos cifra gira em torno de R$ 1,7 bilhão a R$ 13 bilhões. E não é só que tem carro o contribuinte a pagar a conta ou morrer de tédio entre no congestionamento nosso de cada dia. Experimente pegar um ônibus em São Paulo, no horário de pico e ficar em pé enquanto o veículo anda a uma velocidade média de 9 km/h. Em tempo: um homem andando a pé tem uma velocidade média de 5 km/h.

Mas não é somente São Paulo, a maior do Brasil e viver seu momento de congestionamento. Belo Horizonte, por exemplo, com sua topografia acidentada começa a experimentar o mesmo mal. O centro da cidade foi projetado há 110 anos – quando a cidade foi planejada e calculava que chegaria ao ano 2000 com cerca de 200 mil habitantes. Atualmente somente BH tem 2 milhões e 300 mil, sem contar a região metropolitana, cujas cidades limítrofes também despejam milhares de trabalhadores no centro e bairros belo-horizontinos.

Falta planejamento
Como o transporte é deficiente, o cidadão prefere o carro, mesmo com a falta de vagas para estacionamento, apesar de perder tempo em congestionamentos, ainda é melhor do que depender de ônibus e do metrô. Seria chover no molhado enaltecer as vantagens do transporte coletivo, como não-poluente, segurança e outros que tais. Mas o tema, com certeza vai tomar tempo de debatedores e candidatos nesta e nas próximas eleições.

Muito mais que a violência e o desemprego, temas que foram decisivos nas eleições anteriores, a questão do trânsito exige criatividade e rapidez. Como as próximas eleições são municipais, e talvez o tráfego nas grandes cidades, o grande nó na vida dos cidadãos brasileiros e que deveria merecer de nossos ilustres candidatos, a devida atenção.

Se quiser continuar crescendo e com qualidade, o tema transporte público não poder ser apenas uma utopia de esquerda. É vital para a cidade e para o planeta que, menos poluído, vai agradecer.

(Publicado originalmente no "Brasil News", publicação da comunidade brasileira no Canadá - www.brasilnews.ca)

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